A podridão de grãos da soja é um desafio agrícola emergente que vem afetando significativamente os produtores de soja. Nas últimas quatro safras, esta região, que corresponde a uma parcela substancial da produção de soja do estado do Mato Grosso, tem enfrentado perdas crescentes devido a este problema.
O impacto é notável, variando entre 16% e 40% de perdas na safra 2021/2022, o que representa um potencial de perda de milhões de sacas de soja.
Este artigo busca explorar as causas subjacentes, a variabilidade na sensibilidade das cultivares de soja, as estratégias de manejo adotadas, e a importância dos fatores ambientais na incidência dessa podridão. Compreender estas dimensões é crucial para desenvolver soluções eficazes e garantir a sustentabilidade da produção de soja nesta região vital para a agricultura brasileira.
Introdução ao Problema
Nas últimas quatro safras, os produtores de soja na região do médio norte do Mato Grosso têm enfrentado um desafio crescente com a incidência de podridão de grãos e vagens durante o estágio final de formação.
Essa região corresponde a 31% da área semeada de soja do estado e os relatos de perdas por esse problema variaram de 16% a 40% na safra 2021/2022, um potencial de perda de 59 milhões de sacas.
Embora a origem precisa desse problema ainda não tenha sido identificada, estudos preliminares destacam a variabilidade na sensibilidade das cultivares de soja como um fator significativo para a incidência da podridão de grãos e vagens bem como a agricultura intensivista, baseada na sucessão de culturas com degradação de solo e diversidade microbiana.
Estratégias de Mitigação
A aplicação de fungicidas tem demonstrado alguma eficácia na mitigação dos efeitos, sugerindo uma natureza fitossanitária.
No entanto há grande variação entre os diferentes programas de fungicidas utilizados pelos produtores. Diante das observações e análises realizadas até o momento, uma das hipóteses da causa do apodrecimento de vagens e grãos está ligada a um conjunto de fatores relacionados ao ambiente favorável (hospedeiro suscetível e clima) ao desenvolvimento de fungos fitopatogênico/ endofíticos/ saprofíticos e à maior sensibilidade de determinadas cultivares. Conforme resultados de análises realizadas a partir de grãos e vagens com e sem sintomas, tem-se encontrado gêneros de fungos já descritos na cultura da soja, como Fusarium spp., Colletotrichum spp., Diaporthe spp., Cercospora spp., Corynespora sp., Macrophomina sp. e Phoma sp..
Análise Detalhada dos Sintomas
A sintomatologia da podridão de vagens e grãos, como o próprio nome diz, é caracterizada pelo apodrecimento precoce de vagens e grãos, a partir do estádio fenológico R5 (enchimento de grãos). Os sintomas se iniciam internamente a vagem, com oxidação do tegumento do grão e evoluem para as vagens. Com o aparecimento dos sintomas externos, essas vagens podem apresentar escurecimento, podendo impedir a formação de alguns grãos ou abrir prematuramente e abortar os grãos já formados.
Estes sintomas de escurecimento também atinge os grãos, acrescido de aspecto enrugado. Essas aberturas prematuras das vagens, favorece a colonização por fungos oportunistas. O sintoma no grão após a colheita é de aspecto mumificado, adquirido, geralmente, após o período de armazenamento e sendo agravado com o aumento deste período.
Frequentemente, os grãos afetados podem apresentam ainda, características de cercosporiose (mancha-purpura) e até mesmo mofado.
As plantas acometidas podem apresentar características de distúrbios fisiológicos, podendo ocorrer a retenção de folhas e hastes verdes mesmo em senescência de folhas. As folhas podem tender a ficar cloróticas e murchar antes mesmo do período de maturação fisiológica de grãos.
Fatores Ambientais e de Manejo
A importância das condições climáticas, como condições de umidade (pluviosidade) e temperatura tem sido como fatores cruciais para o agravamento do problema. Além disso, condições de solo e época de semeadura tem sido extremamente relevante para a expressão da sintomatologia. Atualmente, pesquisadas realizadas por instituições públicas e privadas, tem apontado o grupo das carboxamidas como peça chave no manejo desse problema. Além disso, aplicações antecipadas, no estádio vegetativo da cultura, antes do fechamento de dossel têm sido apontadas como essenciais para a redução das perdas pelo problema. Também se observou que a utilização de uma mistura de alguns triazóis, bem como a combinação de fungicidas sistêmicos com fungicidas protetores, demonstrou ser uma estratégia eficaz no controle da incidência do problema.
Conclusão e Perspectivas Futuras
A podridão de grãos na cultura da soja no médio norte do Mato Grosso representa um desafio sério para os produtores, impactando a produtividade e a rentabilidade da cultura na região. Além do mais, os problemas com a podridão de grãos se estendem ao armazenamento, impactando também nas unidades armazenadoras de grãos. Embora a causa específica ainda não tenha sido totalmente esclarecida, a implementação de estratégias de manejo baseadas na aplicação criteriosa de fungicidas e na consideração dos fatores ambientais e genéticas das variedades é crucial para minimizar as perdas e garantir a sustentabilidade da produção de soja nessa região essencial para a agricultura brasileira.
Autores:
Mariana Ferneda Dossin – Eng. Agrônoma Dra. Solos – Desenvolvimento Técnico de Mercado Sr. BASF – Lucas do Rio Verde
Luana Maria de Rossi Beluffi – Eng. Agrônoma. Ms em Fitopatologia. Pesquisadora e Coordenadora do Departamento de Fitopatologia da Fundação Rio Verde – Lucas do Rio Verde.
Isabela Ulsenheimer – Eng. Agrônoma. Ms em Agronomia. Assistente de Pesquisa do Departamento de Fitopatologia da Fundação Rio Verde – Lucas do Rio Verde.
Referências:
https://www.embrapa.br/busca-de-projetos/-/projeto/221024/nova-anomalia-na-cultura-da-soja-podridao-das-vagens-em-sistemas-de-producao#:~:text=Nova%20anomalia%20na%20cultura%20da%20soja%3A%20podrid%C3%A3o%20das,munic%C3%ADpios%20da%20regi%C3%A3o%20m%C3%A9dio%20norte%20de%20Mato%20Grosso.
Fonte: BASF